sexta-feira, 16 de maio de 2008

Santa dor que me punge.

--- Meus olhos descansam nos teus. Mas você parece não perceber ou importar-se com isso, não... você não entende. Você nunca vai entender, nem enxergar, sabe por quê? Porque você não quer, você nunca quis. E é tão insignificante para você o que eu sinto.
Você nunca me visita... É agonizante ver-te por uma só vez em sete. Eu quero ter você mais vezes, mas isso não é digno de importância, é... você está bem assim, por um ano de paz e calmaria. E eu sinto tanto em ser o outro... Eu não queria ser assim.
--- Amo encontra-te listrada, amo tanto os teus olhos – como os amo. Tem sido extremamente difícil, mais para mim que para qualquer outra alma. Aliás, eu não sei bem o que está acontecendo... Tenho estado por muitas vezes em cólera profunda, afogado em águas gélidas. Tão próximo... e tão distante da sua janelinha, da sua persiana, de você... tão afastado das coisas boas, das TUAS coisas. Sim, tudo isso pode ser inesperado, mas é aonde eu me encontro, no alto da colina fria, onde o vento é cortante no verão e dilacera o amor no inverno.
--- Não era de acreditar em sentimentos fortes e quentes, tampouco cair de amores desesperados, tudo isso é novo para mim, pode acreditar. Eu te amo, querida, eu te amo. O que mais fazer para mostrar-te? Hem, diga-me, que faço para trazer-te ao meu lado e encostar a cabeça em teu ombro, no teu suéter vermelho. Quantas vezes mais preciso desejar-te aqui, comigo? E tirar-lhe boas risadas e expressões de puro inglês? Viver tua fala na pele... embolar passos fora de compasso, ouvir sobre você, respirar você.
--- Nesse dia eu vivo, eu espero com a ansiedade de mil pés aveludados. Eu conto as frações que me restam longe de ti. E quando ele chega, me transfiguro em você, ponho as pálpebras na tua direção e espero você vir me chamar por outro nome. Preparo o coração três horas antes, para te curtir indiretamente; a sua voz, a sua loucura, o teu ar de jovem e os olhos sábios e vividos – os que me levam a segurança das matas verdes – seus olhos tingidos de preto... Em você o preto se torna a mais alegre das cores. Tudo em você é perfeito, mas dura pouco. Quando o dia acaba e você vai-se apressada, você me assassina, acaba de me matar, e eu hiberno no frio. Veja, o que na verdade me mantém é saber que dali em sete vou te ver novamente, com teus olhinhos brilhantes e pueris. E essa é minha anestesia.
--- “Amo o chão que pisa, o ar que respira, tudo quanto toca e tudo quanto diz. Amo todos os seus olhares e todos os seus gestos, amo-te toda inteira, completamente. Aí está”
--- Bicicletas, mundos mágicos, colinas em verde manto, pequeninos sábios, medo no natal, puxador de charretes do submundo, filhos pródigos, e uma mãe amada. Coisas tuas. Sagardas coisas! Coisas que eu guardo em mim, que vão jazer na minha memória e colorir esse último ano da tua arte. Espero ler toda vida a sua vida, poder encharcar de luz o teu palco.
--- Sabe o que eu quero com isso? Não explodir. Diminuir a angustia e te mostrar o que a boca não é capaz de fazer. Tudo bem se não me amar, eu só vou morrer aos poucos... Você vai sepultar-me em terra sem a vontade, e eu aceito isso. Eu respeito isso e sou incapaz de sentir outra coisa, senão o mais fervoroso dos amores. Agora vê? Fico satisfeito. Mesmo que não mude patavinas, há algo maior e mais belo, e que nada nem ninguém pode me negar a possuir. Algo que habitará para sempre a minha existência. Eu tenho você em mim. Eu sou você.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Tinteiro orgânico.

Sinto que estou morrendo. É tanto físico quanto mental.
A cada dia que passa, viver se torna mais difícil. Suplico ardentemente à morte: "que venha me confortar, minha boa morte!". Neste nefasto aposento, onde a carne pede pela piedade, as torturas me acalmam serenamente. A epiderme me dói.

Hoje acordei com ódio, o que não é diferente dos demais dias, a dor vem-me sempre, chego a não mais senti-la. Meu sangue parece ter parado e acho que minha mente já não segue o tempo cronológico das coisas.
Meus braços estão frios e não sinto mais as pernas. Deram-me três meses. Acho muito.
Nesta prisão, de paredes tristes e opacas, viverei os últimos dias de minha vida. E há quem diga que a esperança é a última que morre. Mentira. A minha está morta, e seus próprios vermes a devoram.
Nesta carcaça doente que vos escreve, está retida toda maldade e todo ódio inútil, por assim dizer. Talves seja inútil para mim, ou quem sabe não.
Talvez, seja realmente necessário passar por isso. Não me queixo, ainda não. Em breve, bem breve mesmo, eu já não vou sentir mais dor.
O inverno tem sido longo. Oitos anos, acho.
Quem sabe lá no céu eu possa ver as tulipas, correr pela imensidão dos pastos a fora, é... Quem sabe. Eu não sei, talvez eu vá arder as costas no fogo eterno. A julgar pelas vidas que tirei...
Seria ingratidão minha dizer que sofro, apesar de que sofro, mas estou contente com a dor, será tudo diferente. Amanhã, eu vou amar de novo, de noite, me embalar no sereno e a última lágrima tocará o chão, e levará consigo toda a minha dor.
E vai borrar esta carta escrita com sangue.
Espero que tenhas mais alegrias em tua vida, eu tive pouca. Espero que consiga sair daqui. Sinceramente, eu espero.
Assim, deixo-te com esta carta, e com meu último sopro de vida. E se fores, fiel leitor, um de meus algozes: obrigado.