--- Campo de morangos para sempre, sempre, sempre. E não acho que alguém esteja na minha árvore. Ela está só, caíram os seus morangos. E lá se pode perceber que ela ainda não está triste, é claro. Porém, é preciso que cada qualquer pessoa cuide dela e faça brotar dela novos morangos. E não será tarefa difícil, é de longe a mais formosa árvore, que o laborioso nutritivo de um sonho regou. Fez-se germinar de pálpebras postas. E fez das noites mal dormidas a sua redoma de vidro. Agora vou, estou indo para o campo dos morangos, não há por que esperar. É para sempre.
--- Viver é fácil de olhos fechados, sem entender realmente o que você vê. Está ficando muito difícil de chegar lá. Acho que não mais conseguiremos ver, mesmo de olhos fechados. E como, então, chegar ao campo de meus morangos? É por pra tocar sua voz, do homem que apaziguou a vida de quem vive. E a voz dele guiará quem for ao campo dos morangos para sempre. Quando o caminho se mostrar, você já não conseguirá distinguir o Não do Sim. E tudo pode parecer um sonho. Mas sabe, eu sei quando é um sonho. E às vezes, é muito difícil saber...
--- Mas está tudo errado, por isso eu acho que discordo. Não se caem mais os morangos como antigamente. Não se permite que despenque em calma. E quando eu for àqueles campos, deixe-me te botar para baixo. Pois que eu fui, quero agora inflar meus pulmões do morango, do morango dos campos para sempre. Sempre, não, algumas vezes. E eclode o fim, quando o sempre dos morangos cai em minhas mãos. Não os quero pegar, quero vê-los cair lentamente apenas. É muito mais difícil faze-lo e acho que não sou mais eu. Algumas vezes, penso que sou eu mesmo lá, fazendo despencar morangos do alto da árvore. E nunca passa disso.
--- A copa de ramagem cinza ameaça cair, e eu não quero vê-la cair, quero apenas seus morangos. Não quero estar presente quando todos os morangos tocarem o chão de uma só vez. Como se fosse muito pedir morangos... Dora em diante, quero tê-los só para mim. Não será mais para sempre, e não será breve também. E as despencas de morangos se tornarão enfadonhas: chegou o fim. A grama dilui os morangos. Nada é o que parece ser. Mas sabe, eu sei quando é um sonho...