sexta-feira, 9 de maio de 2008

Tinteiro orgânico.

Sinto que estou morrendo. É tanto físico quanto mental.
A cada dia que passa, viver se torna mais difícil. Suplico ardentemente à morte: "que venha me confortar, minha boa morte!". Neste nefasto aposento, onde a carne pede pela piedade, as torturas me acalmam serenamente. A epiderme me dói.

Hoje acordei com ódio, o que não é diferente dos demais dias, a dor vem-me sempre, chego a não mais senti-la. Meu sangue parece ter parado e acho que minha mente já não segue o tempo cronológico das coisas.
Meus braços estão frios e não sinto mais as pernas. Deram-me três meses. Acho muito.
Nesta prisão, de paredes tristes e opacas, viverei os últimos dias de minha vida. E há quem diga que a esperança é a última que morre. Mentira. A minha está morta, e seus próprios vermes a devoram.
Nesta carcaça doente que vos escreve, está retida toda maldade e todo ódio inútil, por assim dizer. Talves seja inútil para mim, ou quem sabe não.
Talvez, seja realmente necessário passar por isso. Não me queixo, ainda não. Em breve, bem breve mesmo, eu já não vou sentir mais dor.
O inverno tem sido longo. Oitos anos, acho.
Quem sabe lá no céu eu possa ver as tulipas, correr pela imensidão dos pastos a fora, é... Quem sabe. Eu não sei, talvez eu vá arder as costas no fogo eterno. A julgar pelas vidas que tirei...
Seria ingratidão minha dizer que sofro, apesar de que sofro, mas estou contente com a dor, será tudo diferente. Amanhã, eu vou amar de novo, de noite, me embalar no sereno e a última lágrima tocará o chão, e levará consigo toda a minha dor.
E vai borrar esta carta escrita com sangue.
Espero que tenhas mais alegrias em tua vida, eu tive pouca. Espero que consiga sair daqui. Sinceramente, eu espero.
Assim, deixo-te com esta carta, e com meu último sopro de vida. E se fores, fiel leitor, um de meus algozes: obrigado.

6 comentários:

Laryssa Frezze e Silva disse...

Eu não sei a razão, mas lembrei-me de " Ventos Uivantes " ao ler esse seu texto....
Está lindo, by the way... mas sou suspeita. Tudo que me lembra " O Morro... " é lindo para mim.
Continue a postar suas idéias.
^^

Marcela disse...

Uma saia florida pode renascer em outros lugares. ;)
Texto muito bonito o seu também!

Livia R disse...

Obrigada, sempre que quiser aparece por lá!
os últimos textos meus nem eram assim bons!
o teu tem um ton interessante!
prazer!

Rômulo disse...

Obrigado! Obrigado mesmo (embora não seja pra tanto... rs)!
Gostei dos seus textos também, a escrita de alguns me lembra Clarice Lispector... Dos que li meu preferido foi o penúltimo, talvez eu possa me tornar bem sucedido se segui-lo à risca... rs

Livia R disse...

pode claro!
eu farei o mesmmo

gustablo disse...

Nossa
esse texto tem um tom frio
muito bom
retrata bem o sofrimento de alguem que deve estra a beira da morte e nao aguenta mais viver