terça-feira, 8 de abril de 2008

A vida é imunda

--- O relógio marcava três horas de uma tarde de ontem, e a vontade de um café pegou-me desprevenido. Fui à padaria com seis moedas e trouxe um saquinho de pó que de alguma forma pudesse saciar meu desejo. Na volta, ao cruzar com o “cinema” da esquina, aonde as coisas mais estranhas acontecem, vi três vira-latas, e um deles veio até mim afim de faturar alguma comida. Presenciei, também, uma cena digamos que corriqueira e ainda assim desumana.
--- Um menino, de roupas sujas e desbotadas, ocupava uma barraquinha de pipoca, tão mais suja e tão mais desbotada que suas roupas. Era um pobre figurante, em meio a uma infinidade de pés apressados, e por um instante tomou minha atenção. Pensei em trocar a sexta moeda por um saquinho lilás de pipoca. Teria feito se não fosse um homem, um tanto antipático num terno marrom. Entrou na minha frente. Tinha um ar de superioridade e fazia questão de por amostra seu Rolex francês. Ele impôs ordem e pediu pela pipoca, então o pequeno apressou-se e em dois tempos a pipoca estava nas mãos do homem. O senhor fez questão de reclamar do custo e da pouca quantidade, mas entregou os dois reais, e saiu com pressa.
--- Como se já tivesse visto cena parecida, me fiz indiferente, e pedi pela minha pipoca, que demorou um tempo significativamente maior que o do sujeito precedente. Durante a espera, não pude deixar de reparar na placa da barraca, quase toda coberta pela ferrugem. Dizia: “pipoquinha especial e colorida”. Na hora, isso não me levou à reflexão alguma... Exceto pelas "branquinhas" que felizes, eram como padrão oposto, face ao menino de expressão triste.
--- A pipoca enfim ficou pronta, e eu tomava o rumo de casa quando um grito trouxe de volta o terno marrom tingido com labaredas enfurecidas. O homem veio aos berros, com as bochechas vermelhas como as de um tomate e derramou o resto da pipoca e alguns milhos “não estourados” numa poça negra e fedida de esgoto. A lama densa fazia com os milhos flutuarem. O homem alegou que as pipocas estavam frias e exigiu seu dinheiro de volta. O menino em toda sua humildade, disse que a barraca pertencia ao seu chefe e nada podia fazer, uma vez que o chefe controlava a proporção entre o milho gasto e o capital recolhido. Ele também preparara a pipoca, certificando-se que esta estava aquecida. O homem, então, sacou o saquinho lilás amassado e pôs-se a recolher os milhos que nadavam na poça de esgoto, juntou no saquinho os milhos envolvidos no visco e devolveu ao menino. Empurrou-o contra a parede e tornou a exigir o dinheiro. O menino, sem mais o que fazer, pegou os milhos encardidos e devolveu as duas moedas gordas e impregnadas de maldade ao homem. Pude notar um sorriso torto...
--- Meus olhos ameaçavam chover e com o fim do escândalo enfim retornei. O café não tinha mais graça, eu estava agora tomado por uma dolorosa reflexão e um ódio doentio por aquele terno marrom. O dia terminou sem resposta.
--- Hoje, acordei duas horas mais tarde que o normal, fui à cozinha tomar água e voltei para cama com medo do mundo. A imagem do menino não fugia a mente e uma pergunta lançou-se no ar, talvez eterna e matematicamente inexplicável.
O que é o homem? Quem se arrisca, hein?

3 comentários:

darkpoetise disse...

o.O
nossa q texto...
amei
o q é o homem é uma exelente pergunta, enquanto temos desejos de tomar café outras pessoas tem o desejo a vida e outras apenas são tomadas de arrogancia, nossa esse texto faz pensar mesmo e tem horas q realmente da medo do mundo...

bjs

Marcela disse...

nunca ninguém vai ser capaz de saber.

Laryssa Frezze e Silva disse...

Na verdade, eu não sei me explicar.
Primeiramente, desculpa a minha demora em vir aqui. Mas eu estive abarrotada de provas, e testes e deveres, e compromissos essas semanas. Mas pronto (ufa!) Estou temporariamente livre...
Okay. Agora, vamos ao texto: Eu não sei como explicar de forma melhor, mas parece que eu vi a cena se desenrolando direitinho na frente dos meus olhos. Como se eu lembrasse de algo que eu mesma tivesse visto...Está lindo!
Acho que foi o texto seu, que eu já li, mais bonito!
muitos parabéns!!!
=**