domingo, 13 de abril de 2008

Dias felizes são raros.

... Porque naquele dia eu senti a areia entre os dedos. E o escuro não me trouxe coisa alguma. Porque eu nasci na véspera, entre o minuto final de ontem. O dia em que a geada não veio. A lua surgiu cedinho, e pôs-se a admirar o sol. Foram vinte e quatro horas de amor. Mãe e eu. Doce senhorinha dos lenços orientais.
--- Não cabe dor no meu dia, foi tão diferente de tudo. Tiramos uma foto em que a mamãe sorriu, nunca pudera eu admirar seu lindo sorriso. Éramos os dois, um só elo de mãos dadas, marcando as pegadas na praia... Naquele dia não choveu, e nós fomos de bicicleta à praia, e os muitos centavos de nosso cofre não pagam o que eu sentia.
--- Eu tinha três anos, mamãe já estava doente, quase não saía da cama. Eu pedi tanto, que naquele dia ela me levou à praia. Mamãe levou uma cestinha envolta numa toalha xadrez cheia de pãezinhos que ela mesma preparou. Bem fomos nós pela estrada do matagal, a terra cheirava - ou o pão, vá saber- ...
--- Amor de mãe é sempre bom, claro que eu tive pouco, mas o suficiente para validar o sentimento, era realmente bom, eu sinto falta. Ela virou uma estrela nova e linda, talvez tivesse ela que cuidar de alguma flor, e só deixou-me estrelas que riem.
--- O dia engatinhava para o fim, mamãe trouxe-me uma pombinha engaiolada cheia de pesar, solfejando seu suor em forma de música. Tinha a asa esquerda quebrada e mamãe deixou-a aos meus cuidados. Eu não sabia da magia da metáfora, mas vá lá, eu gostei dela. Mas como a manhã vai, eu volto ao meu dia, o mais feliz deles. A essência estava toda no sorriso, nos cabelos negros que o sol reluzia. Eu era bem diminuto, mas esperto, e como era. Mas eu sabia que ela iria viajar e se hospedar num lugar bem tranqüilo. E a passagem estava comprada, portanto, tratei de fazer o dia feliz. Um singelo dia feliz.
--- Não se deve apostar na memória, e de fato, os dias caem no esquecimento, os dias são passageiros e evaporam-se como as lágrimas. Todavia, as lágrimas do meu dia eram lágrimas de amor, e a estas não reserva espaço à atmosfera. Agora, admito que muitos dos relatos provêm da mente, e a mente é a maior das suseranas, faz sempre o que lhe cabe, e o que quer. Portanto, não vá tornar insano, o meu dia.
--- Não reservo mágoas, nem dor. Pudera eu fazer algo, senão deixá-la ir? É triste, mas é fato. Ela foi e deixou-me um “flashback” presente nas linhas tortas de minha história.
E é tão comum nos perdermos no tempo...
--- Naquele dia, mamãe usava um vestido azul, e parecia fazer parte do mar, do imenso azul que ela contemplava, e que as lágrimas, exatamente iguais ao mar, foram poucas. Ela vivia outra vez. Ela me disse que os sonhos nem sempre são de mentira, e que os pesadelos já não existiam mais. E nós dormimos, adornados pelo céu alaranjado da tardinha. Mamãe espelhava o mar, e sua voz chamava ao marulhar das ondas. Naquele dia, no minuto de ontem ela se foi, e eu ouvia o marulhar das ondas.

5 comentários:

Brena Marinho disse...

Olá...

Sou a pessoa cujos blog visitaste...

Obrigada, também gostei de seus textos. Não vejo problema que adicione a sua lista, farei o mesmo com o seu^^

Um sorriso,
Brena Bela.

Beernardo ; disse...

adorei esse texto. =P

ah, eu tenho que postar... semana de provas e muita ocupação... família aqui, etc. nem tive tempo.
hoje ou amanhã vou postar alguma coisa. hahaha

ah, vou catar um texto daqui pra apresentar na aula de literatura, beleza?
ushsuhsush

valeu!
até a próxima.

Rômulo disse...

Triste é pensar que nem sempre nos damos conta dos dias felizes...

Beernardo ; disse...

hahaha
vou levar o luana, ok?
concerteza, tem créditos... ainda vou dar uma divulgada no seu blog. hahaha

valeu então!
flw

Laryssa Frezze e Silva disse...

Rapaz... que texto triste!
É bonito, mas é realmente triste. Gostei do fato de você usar no primeiro paragrafo várias expressões soltas que só vão se explicar mais adiante. Parabéns! Estás cada vez melhor....^^